Quem curte fotografia sabe o quanto uma cena comum pode se transformar em pura poesia. O instante capturado pela câmera evidencia peculiaridades que poderiam passar despercebidas sem o artifício do congelamento da imagem. Fotografar, muitas vezes, é revelar a poesia do mundo. Isso fica evidente no poema que faz parte do livro Marco do Mundo, de W. J. Solha.
"É a câmera que memoriza arraia -
no fundo do mar - imaginando-se OVNI na
praia.
É a câmera que memoriza a menina
a digitar as notas, na partitura, que vão florindo na sonatina.
É a câmera que memoriza o sapato
no que ele se imagina Prosa, com a Poesia, xistosa, a lhe pôr... salto alto.
É a câmera que memoriza a ponte –
que se queria grandiosa, de Albert Speer -,
mas que para no meio do mar, inacabada, reduzida a um simples píer.
É a câmera que memoriza o deserto
africano que se vê oceano de dunas ondinas... e vida submarina.
É a câmera que memoriza
a nuvem a levitar - mais-leve-do-que-o-ar - mas sua sombra
– que praticamente inexiste – não: movendo-se lá embaixo, no chão.
É a câmera que memoriza a
caatinga – de paus e pedras, quentura de fogaréu - e o arco-íris, perfeito, que
a vinga, no reino dos céus."
Sobre o livro:
W. J. Solha, depois do primeiro poema longo -
Trigal com Corvos, 2004,
Palimage-Imprel, Prêmio U.B.E. Rio de 2005 - apresenta a segunda obra de
uma trilogia,
Marco do Mundo 2012, Ideia, cujo terceiro volume - Ecce Homo - está a caminho.
Fotos: From google